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2020

07 de julho de 2020

2020

Dias atrás li uma notícia que dizia que estávamos exatamente na metade do ano. Chegamos até aqui com coragem, isso precisa ser dito. Nestes 50% de 2020 experimentamos um bocado de instantes difíceis, muita angústia, medo e uma sensação de impotência diante da vida, da doença e das pessoas. Quantas vezes você pensou que não conseguiria? O isolamento, depois o distanciamento, a negligência dos inconsequentes, o negacionismo, a onipotência dos idiotas, o medo de perder o emprego, a ausência dos amigos, a saudade de um abraço, o desejo de reencontros, tudo isso somado ao fato de não sabermos quando vai passar, só nos frustra e priva ainda mais. Viver é simples mas não é fácil. Não imaginamos que somos capazes de sentir tanta dor, até sentir. Até sermos duramente feridos. E pode ser uma palavra que saiu sem querer, pode ser porque estamos tão sensíveis que qualquer coisa nos machuca, pode ser porque estamos com a pele tão esticada que parece tambor. Pode ser também que estejamos vivenciando de modo mais constante a tristeza. Mas essa mesma tristeza nos faz olhar a lua cheia e nos encantar com sua beleza, ter ouvido bom para encontrar passarinho, nutrir nossos olhos garimpando estrelas. É preciso sentir a tristeza se ela bater em nossa porta bem no meio do café da manhã. Mas é preciso também não deixar a poesia sair pela mesma porta. Podemos estar chorando mais ao invés de sorrir, mas não podemos nos desacostumar da alegria. Sentir o que se passa dentro de nós é fundamental para nos entendermos. Aos poucos, o tempo vai suavizando intensidades, amenizando os exageros, (re)temperando a vida.
Temos 50% do ano pela frente, talvez possamos usar esse tempo respeitando os dias e as noites, o sol e a lua, a chuva e os amanheceres tecendo nossa vida nos intervalos, seguindo o fluxo, respirando, julgando menos, se conscientizando da falta de certezas e confiando na existência de uma inteligência amorosa. Eu sei, isso é bem difícil de acreditar. Também desconfio, às vezes. Mas se não dermos as mãos com a vida e com essa fé de prosseguir, adoeceremos mais ainda. Não precisamos ficar alimentando a fome. Ainda estamos no ciclo da crisálida, o voo da borboleta vai demorar. O fruto ainda precisa amadurecer, controlemos então a nossa ansiedade. Quando era criança, lembro do dia em que ganhei uma caixa de lápis de cor. Meus pais nunca se importaram de eu pintar as portas dos armários, as paredes do corredor, embaixo da mesa. Sempre risquei tudo. Toda vez que os dias ficam muito pesados, volto para os lápis e as tintas. Pintar por fora é um jeito de colorir por dentro. A tristeza costuma se afrouxar com as tintas que diluem na água, e dos riscos e manchas que vão surgindo, antecipo as delicadezas do amanhã.

Adriana Antunes de Almeida Poletto

Obs.: Texto publicado originalmente no Jornal Pioneiro, na sessão Cultura e Tendências (7/7/2020). 


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