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Freud Vive!

07 de maio de 2021

Freud Vive!

Em 6 de maio comemoramos o nascimento de Freud, o escultor de memórias do passado, de histórias e estórias da alma humana, da civilização, do sofrimento e das ruínas do sujeito, de suas inquietações e angústia. Falando e escrevendo sobre o passado, também estava buscando compreender o presente e o futuro.

Freud, em A Transitoriedade, de 1916, traz a seguinte lembrança: “algum tempo atrás (1913), fiz um passeio por uma rica paisagem num dia de verão, em companhia de um amigo taciturno e de um poeta jovem [...] O poeta admirava a beleza do cenário que nos rodeava, porém não se alegrava com ela. Era incomodado pelo pensamento de que toda aquela beleza estava condenada à extinção, pois desapareceria no inverno, e assim também toda a beleza humana e tudo de belo e nobre que os homens criaram ou poderiam criar”. Trata-se do doloroso cansaço do mundo e da rebelião contra o finito, contra a fragilidade do que é belo e transitório, revelado pelo poeta, revelado também pela guerra que estava prestes a eclodir, tilintando o imaginário e as ilusões sobre a vida, sobre as paisagens, sobre o humano. Freud contesta a visão pessimista do poeta: “o valor de transitoriedade é valor de raridade no tempo [...] a limitação da possibilidade da fruição aumenta a sua preciosidade [...] quanto à beleza da natureza, ela sempre volta depois que é destruída pelo inverno, e esse retorno bem pode ser considerado eterno, em relação ao nosso tempo de vida [...] talvez chegue o dia em que os quadros e estátuas que hoje admiramos se reduzam a pó, ou que nos suceda uma raça de homens que não mais entenda as obras de nossos poetas e pensadores, ou que sobrevenha uma era geológica em que os seres vivos deixem de existir sobre a Terra; mas se o valor de tudo quanto é belo e perfeito é determinado somente por seu significado para a nossa vida emocional, não precisa sobreviver a ela, e portanto independe da duração absoluta”.

A data de hoje marca o nascimento de Freud (1856-1939), marca também sua imortalidade no tempo, quando nos deixa lembranças de textos tão belos e significativos, quando rompe com a ideia de um tempo linear nos mostrando que a duração não é uma condição de valor absoluto, quando nos deixa o futuro em uma ilusão, em um sonho. Freud não convenceu o poeta, mas nos convence por meio de sua obra e de suas ideias, que permanecem vivas, registradas em tempos difíceis de guerras, tragédias, também em tempo de pandemia, a exemplo da gripe espanhola, quando perdeu sua jovem filha Sophie, em 1920, conduzindo-o a refletir e aprofundar sobre o tema da morte e do luto. Neste momento de muitas perdas e incertezas, lembramos textos como “A transitoriedade”, “Luto e melancolia”, “O mal-estar na civilização”, dentre outros.

Transcendendo o tempo linear e mergulhando no atemporal do inconsciente, no tempo enquanto história, enquanto (re)significações, podemos pensar no espaço da análise, hoje, cujas conexões, associações permanecem mesmo nas salas de análise virtuais, onde sonhos, ilusões, fantasias, subjetividades são contadas mostrando-nos que o valor da transitoriedade é valor de raridade no tempo, que a limitação da possibilidade da fruição do belo aumenta a sua preciosidade e que a beleza da natureza sempre volta depois que é destruída pelo inverno.

Freud Vive!

José Renato Berwanger Carlan - psicanalista do CPRS


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